Berlim reunificada e capitalista desperta paixões tristes; assim, ambulantes vendem mais memórias do tempo em que tínhamos utopias para ninar. "A museificação do mundo é atualmente um dado de fato. Museu não designa, nesse caso, um lugar ou um espaço físico determinado, mas a dimensão separada para a qual se transfere o que há um tempo era percebido como verdadeiro e decisivo, e agora já não é. (...) tudo hoje pode tornar-se Museu, na medida em que esse termo indica simplesmente a exposição de uma impossibilidade de usar, de habitar, de fazer experiência". Num tempo em que tudo pode ser sacralizado, separado da esfera humana pelo capitalismo como religião unicamente ritualista, de que falava Benjamin, estamos destinados a destituir o uso destruindo a coisa por meio do consumo ou consagrando-a por meio da pura exposição espetacular, em que as coisas são exibidas em sua separação de si mesmas (Guy Debord, La société du spectacle). Participamos, assim, segundo Agamben, da "angustiante experiência de destruição de todo possível uso". (AGAMBEN, Giorgio. Profanações, p. 73). Tudo o que parece restar é o conforto inquieto de um gozo de prótese.