Lançamento: Sopro #27

18 maio, 2010

 



"Na contramão do resto da América Latina, o Brasil optou, em recente decisão do Supremo Tribunal Federal, por “esquecer” juridicamente o Terror de Estado praticado pelos agentes da nossa mais recente ditadura. Que camadas de sentido se sobrepõem nesta decisão? O que ela revela sobre a persistência da ditadura em nossas instituições? Que concepção de Estado e de Direito ela encerra?" 
Texto extraído de: <www.culturaebarbarie.org/sopro>


por Raphael Neves,

por Murilo Duarte Costa Corrêa,


por Alexandre Nodari,
do blog “Consenso, só no paredão”



(*) No site do Sopro, podem-se ler os textos em formatos HTML PDF | FLASH.



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Ex post, resolvi incluir aqui o "Fragmento n. 1" do poema "A implosão da mentira", da pena aguda de Affonso Romano de Sant'Anna. Seu poema foi publicado logo após o atentado Rio-Centro, em 1984; cabe no contexto discutido pelo Sopro #27 . Gosto, ainda, do final do poema ("E a mentira repulsiva / Se não explode pra fora / pra dentro explode / implosiva"). Fiquemos na boa companhia de Affonso, e convido-os a pensar a Lei da Anistia e nossa herança político-jurídica autoritária também à luz desse poema. Para ler o poema completo, e a nota oficial da pena do autor, vale clicar aqui



A Implosão da Mentira 

 Affonso Romano de Sant'Anna

Fragmento 1

               Mentiram-me. Mentiram-me ontem
               e hoje mentem novamente. Mentem
               de corpo e alma, completamente.
               E mentem de maneira tão pungente
               que acho que mentem sinceramente.

               Mentem, sobretudo, impune/mente.
               Não mentem tristes. Alegremente
               mentem. Mentem tão nacional/mente
               que acham que mentindo história afora
               vão enganar a morte eterna/mente.

               Mentem.Mentem e calam. Mas suas frases
               falam. E desfilam de tal modo nuas
               que mesmo um cego pode ver
               a verdade em trapos pelas ruas.

               Sei que a verdade é difícil
               e para alguns é cara e escura.
               Mas não se chega à verdade
               pela mentira, nem à democracia
               pela ditadura.