"Na contramão do resto da América Latina, o Brasil optou, em recente decisão do Supremo Tribunal Federal, por “esquecer” juridicamente o Terror de Estado praticado pelos agentes da nossa mais recente ditadura. Que camadas de sentido se sobrepõem nesta decisão? O que ela revela sobre a persistência da ditadura em nossas instituições? Que concepção de Estado e de Direito ela encerra?"
Texto extraído de: <www.culturaebarbarie.org/sopro>
Texto extraído de: <www.culturaebarbarie.org/sopro>
por Raphael Neves,
do blog “Polítika Etc.”
por Murilo Duarte Costa Corrêa,
do blog “A Navalha de Dalí”
por Alexandre Nodari,
do blog “Consenso, só no paredão”
(*) No site do Sopro, podem-se ler os textos em formatos HTML | PDF | FLASH.
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Ex post, resolvi incluir aqui o "Fragmento n. 1" do poema "A implosão da mentira", da pena aguda de Affonso Romano de Sant'Anna. Seu poema foi publicado logo após o atentado Rio-Centro, em 1984; cabe no contexto discutido pelo Sopro #27 . Gosto, ainda, do final do poema ("E a mentira repulsiva / Se não explode pra fora / pra dentro explode / implosiva"). Fiquemos na boa companhia de Affonso, e convido-os a pensar a Lei da Anistia e nossa herança político-jurídica autoritária também à luz desse poema. Para ler o poema completo, e a nota oficial da pena do autor, vale clicar aqui.
A Implosão da Mentira
Affonso Romano de Sant'Anna
Fragmento 1
Mentiram-me. Mentiram-me ontem
e hoje mentem novamente. Mentem
de corpo e alma, completamente.
E mentem de maneira tão pungente
que acho que mentem sinceramente.
Mentem, sobretudo, impune/mente.
Não mentem tristes. Alegremente
mentem. Mentem tão nacional/mente
que acham que mentindo história afora
vão enganar a morte eterna/mente.
Mentem.Mentem e calam. Mas suas frases
falam. E desfilam de tal modo nuas
que mesmo um cego pode ver
a verdade em trapos pelas ruas.
Sei que a verdade é difícil
e para alguns é cara e escura.
Mas não se chega à verdade
pela mentira, nem à democracia
pela ditadura.