O que significa perguntar sobre o que resta: pensar a atualidade como o trabalho do diagnóstico

30 outubro, 2010


por Murilo Duarte Costa Corrêa (*)
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Ao perguntarem-se sobre aquilo que resta da ditadura, os gestos de Vladimir Safatle e de Edson Telles (2010) repetem, em certa medida, o gesto filosófico-político agambeniano e arendtiano. Em acréscimo, parecem captar as peculiaridades da experiência brasileira de exceção. Segundo eles, não se deveria mensurar aquilo que resta de uma ditadura pelo número de corpos mortos e violados que ela deixa para trás. Procurar os espectros do autoritarismo no interior da cultura brasileira implicaria diagnosticar no presente o que, de fato, constitui aquilo que resta de uma ditadura: as estruturas políticas, administrativas e jurídicas que se prolongam e sobrevivem ainda hoje no interior do Estado democrático de Direito brasileiro.

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Na abertura de um dos textos de Infância e história, o filósofo e jurista italiano Giorgio Agamben (2008, p. 111), escrevera que “[...] toda cultura é, primeiramente, uma certa experiência do tempo, e uma nova cultura não é possível sem uma transformação dessa experiência”. A afirmação do vínculo entre a cultura humana e uma singular experiência do tempo renova uma tradição que não ousou pensar o tempo para além da reprodução dos conceitos de instante e de contínuo. Pensar a relação dos homens com seu tempo permite recuperar dimensões da experiência destruídas ou seqüestradas, exemplares da tarefa do historiador sucateiro de Walter Benjamin (1994, p. 114); o gesto benjaminiano do historiador trapeiro que “deseja não deixar nada se perder” aferra-se aoinsignificante e, portanto, à própria experiência. Eis o gesto que parece habitar profundamente a afirmação agambeniana: “toda cultura é, primeiramente, uma certa experiência do tempo”.

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       Será preciso desdobrar até mesmo o conceito de tempo. Todos partilhamos de uma representação vulgar da temporalidade, de que Heidegger (2009) já havia falado em Ser e Tempo. Segundo ela, o tempo seria como uma linha contínua, povoada por instantes inextensos, e orientada irrevogavelmente ao futuro. Em nossa concepção, o passado é continuamente soterrado pelos escombros de um presente que transcorre veloz demais. A quotidianidade presente é afetada pelas formas de uma temporalidade em que cada instante engendra uma exceção: já não nos sentimos capazes de construir uma experiência autêntica da temporalidade porque vivemos unicamente o instante, e o instante está, desde sempre, e já, dentro e fora de si mesmo; nas palavras de Deleuze (2006), o presente é essencialmente paradoxal, uma vez que o instante atual é aquele que é, mas, ao mesmo tempo, é aquele que já se passou.

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       No prefácio a Entre o passado e o futuro, Hannah Arendt identifica uma relação essencial entre pensamento e tempo. A partir de He, uma curta parábola de Kafka, Arendt desejava revelar aquilo que se encontra na estrutura íntima do pensamento. De acordo com a transcrição de Arendt, a parábola kafkiana é a seguinte:

“Ele tem dois adversários: o primeiro acossa-o por trás, da origem. O segundo, bloqueia-lhe o caminho pela frente. Ele luta com ambos. Na verdade, o primeiro ajuda-o na luta contra o segundo, pois quer empurrá-lo para frente, e, do mesmo modo, o segundo, uma vez que o empurra para trás. Mas isso é assim apenas teoricamente. Pois não há ali apenas os dois adversários, mas também ele mesmo, e quem sabe realmente de suas intenções? Seu sonho, porém, é em alguma ocasião, num momento imprevisto – e isso exigiria uma noite mais escura do que jamais o foi nenhuma noite –, saltar fora da linha de combate e ser alçado, por conta de sua experiência de luta, à posição de juiz entre os adversários que lutam entre si”. (Kafka, apud, Arendt, 2009, p. 33).

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       Tanto como o homem kafkiano deseja fugir à linha de combate e alçar-se sobre ela, para compreender a profundidade dessa pequena parábola kafkiana precisaríamos fugir às conclusões de Arendt, aproveitando livremente suas descrições. A partir de He, Arendt descreve um homem demasiadamente contemporâneo, que encarna o próprio presente ao encontrar-se encerrado na batalha com as forças do passado, que o empurram à frente, e do futuro, que o mantêm violentamente aferrado ao atual.
Em He, as forças do passado e do futuro empurram o homem a um espaço lacunar e, segundo Arendt, atemporal. Nele, o homem é forçado a pensar, e todo pensamento só pode ser constituído em tensão com as potências da memória que não cessa de acossar o homem desde a origem e empurrá-lo adiante, e dos devires, que, repelindo-o, fazem da atualidade o lugar mais próprio em que seu pensamento se mantém. É no dorso fraturado do atual que Arendt (2010, p. 224-225) isola o espaço próprio ao pensamento como exercício do espírito. Esse espaço atemporal e, no entanto, atualíssimo, não pode ser herdado; precisa ser recriado e renovado a cada geração e a cada novo nascimento. Pensar a sua própria atualidade é a tarefa por excelência de cada geração.

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       Se retornarmos a Kafka, perceberemos que há uma passagem que Arendt interpreta como o “intervalo lacunar”, o espaço vazio em que se tornou possível pensar: “Seu sonho, porém, é em alguma ocasião, num momento imprevisto – e isso exigiria uma noite mais escura do que jamais o foi nenhuma noite –, saltar fora da linha de combate...” (Kafka, apud, Arendt, 2009, p. 33).
       Precisamente onde Kafka escreve “imprevisto” e Arendt interpreta “atemporal”, poderíamos interpretar – não sem antes trairmos Arendt –, “intempestivo”, “inatual”, “extemporâneo”, como preferiria Nietzsche. O imprevisto de Kafka precisa abrir uma noite escura como nunca houve; “Ele”, o lutador, salta e foge à linha de combate, que passa a ser singularmente impessoal; passado e futuro, a memória e os devires, permanecem intocáveis pelo ego pensantearendtiano.
       Alocar o ego pensante em um intervalo atemporal que seria preciso criar sempre e a cada vez, como quisera Arendt, poderia sugerir a negação de que o pensamento possa estabelecer-se em correlação com seu tempo. Em Nietzsche (1990), o conceito de intempestivo, ou de inatual, possui uma vantagem: ele não seqüestra nem negativiza o tempo ou os devires. No impessoal combate entre passado e futuro, a atualidade não é vazia, negada, intervalar, mas um índice do real a que precisamos resistir – e uma indeterminação virtual que nos permite resistir.
       Pensar é muito mais do que sustentar-se em um vazio atemporal, como quisera Arendt; o pensamento, no interior ou no fora do combate, sempre se relaciona essencialmente com o tempo. Quando o lutador kafkiano consegue alçar-se da linha de combate é porque, escapando à determinação de seu próprio presente – ser acossado da origem ou impedido pela frente –, a atualidade virtualizou-se e converteu-se em árbitro da totalidade de nosso tempo. O presente, o atual, confundem-se com o intempestivo e com o inatual: “agir contra o tempo, e sobre o tempo e, espero eu, em favor de um tempo que virá” (Nietzsche, 1990, p. 94); “a crueldade de reconhecer unicamente o direito daquilo que deve nascer”, dizia Nietzche. É o imprevisto kafkiano, ou o intempestivo nietzschiano, que quebram a cadeia dos acontecimentos, e poderiam renovar a forma de perguntar-se sobre “o que resta” como um trabalho dúplice: diagnóstico do presente e resistência intempestiva.
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Encontramo-nos desde sempre na tensão kafkiana, em que as forças do tempo mobilizam a história e atravessam os corpos: desviando-se, escapando, suplantando-os, exaurindo-os. Não há pensar que não esteja em relação com o contemporâneo – e, por vezes, o contemporâneo pode significar o advento de “uma noite tão escura como nunca houve”. No entanto, não há nada mais difícil do que suscitar um crepúsculo em pleno meio-dia. É preciso deixar-nos afetar por uma memória irredutível ao presente; diagnosticar e cartografar a atualidade; auscultar os devires e suas indeterminações; pergunta-se sobre o que resta é estar sempre à espreita daquilo que vem... Arendt sabia ser necessário que cada geração e que cada homem – a cada nascimento –, constituísse, à sua maneira, a abertura intemporal, intempestiva e intensa em que se tornou possível pensar. Perguntar-se sobre “o que resta...” demanda, essencialmente, lançar um olhar sobre o tempo: espreitar as forças, detectar a memória, o presente e os devires de nossas estruturas político-jurídicas, e diagnosticar em seu interior o legado autoritário que, longe de ser um anacronismo, constitui o presente inverossímil, inquietante e paradoxal que nos afeta e concerne.

Referências
AGAMBEN, Giorgio. Infância e história. Destruição da experiência e origem da história. Tradução de Henrique Burigo. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.
ARENDT, Hannah. A vida do espírito. Tradução de Helena Martins et al. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira: 2010.
_____. Entre o passado e o futuro. 6. ed. Tradução de Mauro W. Barbosa. São Paulo: Perspectiva, 2009.
BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de história. In: Magia e técnica, arte e política. (Obras escolhidas; v. 1). 7. ed. Tradução de Paulo Sérgio Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1994.
DELEUZE, Gilles. Diferença e repetição. 2. ed. Tradução de Roberto Machado e Luiz B. L. Orlandi. Rio de Janeiro: Graal, 2006.
HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Tradução de Márcia Sá Cavalcante Schuback. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 2009.
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Assim falou Zaratustra. Um livro para todos e para ninguém. 17. ed. Tradução de  Mário da Silva. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.
_____. Deuxième considération inactuelle. De l’utilité et des inconvénients de l’histoire pour la vie. In : Considérations inactuelles I et II. Textes et variantes établies par G. Colli et M. Montinari. Tradução de Pierre Rusch. Gallimard, 1990.
SAFATLE, Vladimir; TELES, Edson (Orgs.). O que resta da ditadura: a exceção brasileira. São Paulo: Boitempo, 2010.
* Comunicação oral feita durante a VI Semana de Extensão do Centro Universitário Curitiba, Faculdade de Direito de Curitiba.
** Publicado originalmente na coluna "Suscitar Acontecimentos", de "O Pensador Selvagem". Para visitar o OPS!, clique aqui.

Ao vivo: Seminário Direito e Ditadura (PET-Direito/UFSC)

26 outubro, 2010



Clique em play para transmissão ao vivo, ou abra o link mms://tvled.egc.ufsc.br/seminario no Windows Media Player ou correlato. Fonte: http://petdireito.ufsc.br/direitoeditadura/ao-vivo/
 Você pode fazer perguntas aos conferencistas e debatedores pelo twitter(@petdireitoufsc) (É preciso ter uma conta no Twitter).
O seminário é transmitido ao vivo pela internet com o auxílio do Laboratório de Ensino à Distância (LED) da Universidade Federal de Santa Catarina.

Programe-se: confira a programação aqui.

Algumas sugestões: Gilberto Bercovici e Sérgio U. de Cademartori debatem a permanência das estruturas administrativas de 1967 no dia 26, a partir das 10h15; Ayrton Seelender e Pádua Fernandes debatem o papel dos juristas na ditadura, também dia 26, a partir das 18h30.  Alexandre Nodari, Flávia Cera e eu, falamos na quarta-feira, dia 27, a partir das 16h00. Imperdível a conferência de Vladimir Safatle, no mesmo dia, a partir das 20h30, com Alexandre Morais da Rosa como debatedor. Na quinta-feira, a partir das 8h30, palestra igualmente imperdível de Raúl Antelo.


Divirtam-se!

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#globomente, #vejamente: teses sobre uma política de signos

23 outubro, 2010

(Os amantes, 1928, de René Magritte)


“A política é a guerra continuada por outros meios".
(Michel Foucault)

1) As guerras modernas pautaram-se por uma modificação no regime dos signos. Informação e contra-informação constituem os dois sobre-investimentos linguísticos por excelência de toda guerra em curso. O fato de que, hoje, os massmedia investem plenamente o corpo social poderia indicar que, para além dos períodos eleitorais, vivemos continuamente em guerra. Não pudemos compreender ainda o nietzschianismo de Foucault ao afirmar que a guerra constitui a relação social fundamental, e que é ela que estupora a cultura propriamente humana. A lei é dominação, a marca simbólica dos vencedores, e “faz surdamente a guerra em cada uma de suas engrenagens”, dizia Foucault. Assim, a guerra é o modelo de relação social fundamental que atravessa o corpo do Estado e os corpos dos cidadãos. Por isso, toda afirmação da liberdade de expressão – dos massmedia e da sociedade de controle à mídia independente – é, já, contra-informação; a afirmação surda de um discurso indiciário da guerra civil atualmente em curso.


 "O sagrado, eis o inimigo".
(Paris, Maio de 68)

2) O intocável pelos homens, eis o inimigo. Os dispositivos que é preciso desativar; a negatividade da qual é preciso desentocar uma positividade luminosa em meio à escuridão e ao vazio ontológicos em que se movem homens e dispositivos. Já não se trata da pura e simples transgressão que, como sabia o próprio Georges Battaile, mantém uma relação essencial com a soberania e a lei; trata-se, antes, de restituir os objetos consagrados pelo rito ao uso comum dos homens. Nesse sentido é que a profanação poderia constituir um contradispositivo capaz de trazer à luz o Ingovernável, o que escapa a todo dispositivo de governamentalidade.


"Todos temos poder nos corpos e fascismo na cabeça".
(Michel Foucault)

3) Os poderes são múltiplos e imanentes. Investem a totalidade do socius e dos corpos individuais, fixam identidades, criam estratificações, e também podem constituir limites imanentes a movediças desterritorializações. Acostumamo-nos a compreender o fascismo como um fenômeno de Estado; no entanto, os poderes não são homogêneos, de forma que mesmo o sujeito seria o resultado mais próprio da operação de um dispositivo governamental, como quisera Tiqqun. O fascismo é uma questão de desejo, de estratificações do desejo, de desarticulações demasiadamente violentas, imprudentes ou suicidas. O fascismo é o momento em que uma linha de fuga se torna uma linha de abolição completa, em que uma máquina de guerra torna-se uma máquina de terror.

 “A libertação não é o fim, mas um começo”.
(Antonio Negri)

4) A emancipação nunca está dada e pronta. Os dispositivos rodeiam os sujeitos. Seus torniquetes os oprimem, mas não necessariamente de fora. Um desejo, demasiadamente humano, pode desejar seu próprio aniquilamento. Por isso, criar um corpo sem órgãos é uma operação ontológica, ética e política, a um só tempo, porque é preciso prudência, é preciso “...(vigiar inclusive em nós mesmos o fascista, e também o suicida e o demente)”, diziam Deleuze e Guattari. Como um produto do desejo – e Wilhelm Reich, bem o sabia –, o fascismo nunca é simplesmente super-estrutural; ele rói os órgãos por baixo, como a sociedade do espetáculo gira no vazio e rói o cinismo e sua essencial relação com a verdade. A nona tese de Debord seria suficiente: “Nas sociedades espetaculares, o verdadeiro torna-se um momento do falso”; na guerra, toda informação reduz-se a contra-informação, mistificação e cinismo.

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Porque estamos em guerra...


Políticas da imanência: só para quem não tem medo...

18 outubro, 2010


“A multidão livre conduz-se mais pela esperança que pelo medo".

Espinosa

1 Com a saída de Marina Silva, o debate eleitoral brasileiro passou inequivocamente a girar no vazio. A estratégia programática de Dilma, acreditando na transferência de popularidade e de carisma do governo Luís Inácio, apostou em um signo vazio que denunciei em outro texto: a continuidade. A estratégia programática serrista, ainda mais vazia, temendo a referida transferência, chegou a arvorar-se na imagem de Lula e, mais recentemente, adotou a estratégia já há muito denunciada por Espinosa: o medo como o afeto político.

2 Toda a campanha de Serra agora produz outro regime de signos, oficiais e não-oficiais, mas aparentemente eficazes, porque capazes de remexer os desejos mais fascistas, radicados na moralidade média e na “honestidade” (por vezes perversa e hipócrita): “ela não vai dar conta”; “ela é búlgara, não pode assumir a presidência porque a Constituição exige seja brasileiro nato”; “Dilma é terrorista e não pode entrar nos Estados Unidos”; “Dilma assaltou bancos”; “Dilma é lésbica”; “Dilma não é cristã”; “Dilma é a favor de matar criancinhas”, como teria dito a Sra. Monica Serra, sobre cujo suposto aborto ainda pairam algumas questões mal-resolvidas etc., todos repetidos ad nauseam e viralizados, seja pelas redes sociais, pelos spammers ou na base da boa e velha panfletagem impressa na gráfica de gente conhecida e “do bem”.

3 Dilma adotou uma tática triplamente articulada: uma baseada em uma reação enfática e necessária, embora não destinada a conquistar votos e, sim, a retirar os militantes da apatia; outra, em um ataque pessoal direto (mais do que justificado pelos ataques tucanos, porque guerra de (des)informação é guerra); a terceira, a via que falta a Serra e que eu tanto esperei ver em Dilma (mas ainda quero ver mais!): a positividade propositiva. Não basta continuar, é preciso estender e inovar. O “como” não compete a Serra, que cai em contradições ainda piores que as imputadas a Dilma pela grande mídia, como foi exemplar a referente à questão do aborto.

4 Não vejo qualquer contradição entre as duas afirmações de Dilma sobre o aborto; frases, aliás, que estamparam Veja nas últimas semanas. Ser a favor da descriminalização do aborto e, ao mesmo tempo, contra o ato de aborto, é tão coerente como ser a favor da descriminalização do adultério, mas ser contra o ato de adultério. Veja quis – como de costume faz –, confundir política criminal e moralidade média, cristã. A massa acrítica, no entanto, engole facilmente um Reinaldo Azevedo com dois ou três Engovs.

5 Os “cristãos” que afirmam de pés juntos “não matam”, assim como a senhora Monica Serra, são os mesmos que acreditam que o Bolsa Família é uma política perniciosa, estéril e intrinsecamente injusta. “Oneram a classe média e pagam os pobres para continuarem fazendo filhos sem trabalhar”, é o que eles dizem. Mas, não; cristãos nunca matam no ventre – esperam que os fetos já estejam fora dele para, então, deixá-los morrer.

6 É, no entanto, preciso moderar o tom. As campanhas de Serra e Dilma adotaram o tom “em favor da vida”, mas essa aparente homogeneidade não deve enganar. O discurso serrista “em favor da vida” é moralista, infundado e sem objeto. Um ponto em que Dilma deve bater incansavelmente nas próximas oportunidades, é que ser “a favor da vida”, para Dilma e para o PT, não é ser capturado, pura e simplesmente, pelo discurso cristão: é ser a favor de uma forma de vida que vale a pena ser vivida. É isso que se quer dizer com a assunção do desafio da “erradicação da miséria”. Essa é a esperança que Dilma oferece como um cintilar de positividade capaz de ultrapassar o medo, o horror e o ódio que pautam a campanha desde a saída de Marina. 


7 O PSDB/DEM, com seus signos oficiais e não-oficiais, está em guerra franca contra as instituições democráticas e os grupos minoritários. Combatem a liberdade de expressão (sempre interpretada como censura), o direito de defesa (interpretado sempre como agressividade gratuita), os homossexuais (“Dilma é lésbica”), os ateus e aqueles que confessam outras práticas religiosas (“Dilma não é cristã”), os estrangeiros (“Ela é búlgara...”), as mulheres (“Ela não vai dar conta”), a história (“Dilma é terrorista”)... Jesus não é a verdade ou a justiça. A verdade e a justiça são a libertação do medo que oprime e do obscurantismo que teima em retornar; mas “o mesmo”, dizia Deleuze, só o veremos uma vez. Isso não garante coisa alguma: apenas suscita a responsabilidade de escolher entre sermos livres, conduzindo-nos pela esperança, ou se cederemos, uma vez mais, ao afeto negativo, aos buracos-negros, do terror, do ódio e do medo.
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Dois ensaios sobre a vida

17 outubro, 2010


{ Ensaios } - É com grande satisfação que noticio aos caros leitores de “A Navalha de Dalí”, que a Revista Captura Críptica: direito, política, atualidade, do Curso de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina, acaba de publicar, no primeiro volume do ano de 2010, um ensaio que escrevi: “Potência e estética de si: a vida como obra de arte e a ética do Eterno Retorno em Nietzsche”.

 Na mesma edição, saiu um pequeno verbete que deseja lançar luzes sobre a genealogia do conceito de vida nua na bibliografia de Giorgio Agamben. Trata-se de verbete intitulado “A vida nua como conceito ético-político, uma genealogia”. Ambos os ensaios já estão disponíveis no Scribd.

 Para quem preferir conferir esses, dentre outros ensaios publicados, pode acessá-los todos no Scribd clicando aqui!, ou na coluna à direita, “notas para um ritornelo”, na etiqueta “ensaios".

Quem desejar acessar diretamente os texto em PDF, basta clicar em "continuar lendo...", logo abaixo.
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Programação

15 outubro, 2010

Seminário Direito e Ditadura – PET Direito/UFSC
De 25 a 29 de outubro no Auditório do Fórum do Norte da Ilha, na UFSC.

SEGUNDA-FEIRA (25/10)
17h00 Início do credenciamento
18h00 Abertura oficial
18h30 Carlos Fico “1964 e ditadura militar: versões e controvérsias”
Debatedor: Alexandre Busko Valim
20h00 João Luiz Duboc Pinaud “Geração Mutilada”
Debatedora: a confirmar

TERÇA-FEIRA (26/10)
08h30 Beatriz Kushnir “Jornalistas e censores: do AI-5 à CF/88″
Debatedora: Elaine Tavares
10h15 Gilberto Bercovici “A permanência da estrutura administrativa de 1967″
Debatedor: Sérgio Cademartori
16h00 Bernadete Aued, Derlei de Lucca e Valmir Martins
Mesa-redonda: “A UFSC sob o regime militar”
18h30 Airton Seealender “Juristas e ditaduras”
Pádua Fernandes “Direito e Segurança Nacional no Brasil”
20h15 Ana Lúcia Sabadell “O direito penal como reação à criminalidade do sistema”
Debatedor: Airton Seelaender

QUARTA-FEIRA (27/10)
08h30 Mariana Joffily “Os interrogatórios dos presos políticos”
Mateus Gamba Torres “Os profissionais do direito e Operação Barriga-verde”
10h15 Caio Navarro de Toledo “1964: o golpe contra a democracia e as falácias do revisionismo”
Debatedor: Nildo Ouriques
16h00 Alexandre Nodari “A censura como instrumento da guerra psicológica: o caso ‘O rei da vela’”
Flávia Cera “Fantasia de liberdade: o corpo na encruzilhada autoritária”
Murilo Duarte Costa Corrêa “A memória como murmúrio da multidão” 
18h30 Modesto da Silveira “O direito e a ditadura”
Debatedor: Pádua Fernandas
20h15 Vladimir Safatle “O direito à violência como base da democracia”
Debatedor: Alexandre Morais da Rosa

QUINTA-FEIRA (28/10)
08h30 Raúl Antelo “Consciência e estratégia: duas leituras”
Debatedora: Jeanine Nicolazzi Philippi
10h15 Modesto da Silveira e Francisco Soriano
Mesa-redonda: “Contextos da luta pelos direitos humanos”
14h00 Lédio Rosa de Andrade, Marize Lippel, Rosângela Koerich e Luís Carlos Cancellier de Olivo
Mesa-redonda: “A Novembrada e o movimento estudantil”
16h30 André Reis da Silva “Do americanismo à contestação: a política externa brasileira durante o regime militar”
Debatedor: Abelardo Costa Arantes Júnior
18h30 Flávia Piovesan “Anistia e legislação internacional sobre direitos humanos: o caso brasileiro”
Debatedor: Reinaldo Pereira e Silva
20h15 Enrique Padrós “As ditaduras de segurança nacional na América Latina:políticas de memória, verdade e justiça”
Debatedor: Waldir José Rampinelli

SEXTA-FEIRA (29/10)
08h30 Celso Martins “Os bastidores da Operação Barriga-Verde”
Reinaldo Lohn “Cidade de ditadura: Florianópolis e a política urbana na década de 1970″
Salim Miguel “Impressões de Florianópolis”
10h15 Paulo Ribeiro da Cunha “Os militares e a Anistia no Brasil”
Debatedor: Reinaldo Lohn
14h00 Ana Maria Veiga “Cinema, gênero e censura: Tereza Trautman e‘Os homens que eu tive’”
Joana Vieira Borges “Leituras e leitores feministas sob as ditaduras”
Marise da Silveira “A perseguição às mulheres durante a ditadura”
Vanderlei Machado “Uma história por contar: a luta das mulheres contra a
ditadura no Brasil”
16h30 Paulo Abrão Pires Júnior “A justiça de transição no Brasil: verdade, reparação e justiça”
Debatedor: Prudente José Silveira de Mello
18h30 Daniel Aarão Reis Filho “Ditadura, anistia e reconciliação”
Debatedora: Mariana Joffily
20h15 Marcelo Ridenti “Um século de cultura e política de esquerda no Brasil”
Debatedor: Alexandre Busko Valim


Folder do evento: clique para ampliar

* Informações e imagens originalmente publicadas no site do PET-Direito/UFSC: http://petdireito.blogspot.com